APRESENTAÇÃO
Elizabeth Rudnick é autora da adaptação para romance do live-action Mulan. A escritora e editora sênior da Disney Press também foi responsável por várias outras versões para literatura, incluindo títulos como A Bela e a Fera e O Rei Leão.
No Brasil, a editora Universo dos Livros ficou responsável pela publicação.
A seguir, farei algumas considerações que podem ser aplicadas tanto ao livro quanto ao longa de 2020.
NOTAS CRÍTICAS
ATENÇÃO! Este texto contém spoiler do filme e do livro.
Inspirado no clássico chinês A Balada de Mulan, livro e filme contam a história de uma moça que, disfarçando-se de homem, assume o lugar do pai idoso em uma convocação para a guerra.
A sinopse revela a motivação da heroína: salvar seu pai e, em um sentido mais abrangente, toda a família (mãe e irmã).
Ao longo dessa jornada, Mulan descobre possuir um talento especial, um dom: seu “chi” — elemento metafísico que possibilita extraordinário desempenho em batalha.
Para desenvolver esse dom, ela precisa abraçar os valores do exército chinês, gravados na espada que roubou do pai: “coragem, lealdade, verdade”.
Entretanto, a mentira de Mulan — disfarçada de homem para ser aceita pelos militares — enfraquece seu poder.
Por isso, durante uma batalha, ela abre mão da armadura e solta os cabelos, revelando sua identidade. O que se observa, então, é que Mulan é mais forte (e serve melhor à família e ao império) sendo quem realmente é: uma mulher.
Simbolicamente, uma de suas rivais (que acaba por ser tornar uma aliada) é outra mulher com poderes mágicos: uma bruxa.
A bruxa, como um espelho de Mulan, também é uma guerreira rejeitada por homens que não a compreendiam. A saída proposta pela bruxa, no entanto, é bastante diferente da de Mulan: enquanto uma deseja destruir o império dos homens responsáveis por sua exclusão social, outra pretende salvar o pai, o imperador e o exército imperial.
Ao final, após o sucesso da heroína, um alto posto militar é oferecido a ela. Mulan, no entanto, recusa a função: sua prioridade está em reencontrar-se com a família.
Graças a essa postura, a moça recebe uma nova espada, na qual se lê, além dos outros três valores anteriores, um quarto: “devoção à família”.
Após o reencontro com os pais e a irmã, não sabemos ao certo qual será seu futuro. Parece que ela retornará ao exército (o que também acontece na animação, em Mulan 2), mas isso não significa que romperá com a família (basta recordar a inscrição na espada).
Na verdade, o que fica claro é que a identidade da guerreira independe de sua ocupação. Mulan honra sua família, seja no exército ou na aldeia (casa), sendo uma mulher corajosa, leal e honesta.
No livro, lemos:
“Ela tinha passado tanto tempo fingindo ser alguém que não era com a esperança de, assim, conseguir ajudar. A ironia era que, o tempo todo, ela só precisava ter sido ela mesma”.
Mulan ensina que uma mulher não precisa — nem deve — ser um homem para contribuir com sua família e sociedade. Ela é, possivelmente, a personagem Disney que melhor personifica a proposta da teóloga Elisabeth Elliot:
“Let me be a woman” (Deixe-me ser uma mulher).
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